Alvor Salva Vidas
Nota: Deliberadamente continuo s escrever segundo as normas do ACORDO DE 1945
SALVA VIDAS
Em 1983, quando o salva-vidas de Alvor deixou de trabalhar e o Museu da Marinha o quis levar para Lisboa, a população revoltou-se, cortou os carris que o faziam descer do abrigo até ao rio, e impediu que a embarcação que tantas vidas salvou fosse levada dali.
Só em 1983, quando o assoreamento da ria já nem deixava o barco sair do seu abrigo e passar a barra, e outras tecnologias de propulsão se afirmavam, é que o salva-vidas de Alvor deixou de ser utilizado, 50 anos depois de ter começado a sua missão nesta localidade piscatória do Algarve.
Mas o facto de ter salvado as vidas de muitos pescadores, como ainda hoje os mais velhos homens do mar recordam, e de ter sido à força de braços de companheiros de faina que esses salvamentos ocorreram, criou uma forte ligação da comunidade ao salva-vidas.
Mas o facto de ter salvado as vidas de muitos pescadores, como ainda hoje os mais velhos homens do mar recordam, e de ter sido à força de braços de companheiros de faina que esses salvamentos ocorreram, criou uma forte ligação da comunidade ao salva-vidas.
Pelas suas características únicas e estado de conservação, em 1983, o Museu da Marinha quis preservar a embarcação, levando-a para Lisboa, para aí ser exposta. Mas a população não deixou e cortou os carris que ligam o abrigo à ria, assim impedindo a saída do barco.
Desde aí, o salva-vidas tem estado no seu abrigo, acarinhado pelos alvorenses, mas pouco visível para os defora. Durante algum tempo, já depois de ter sido desativado, o salva-vidas ainda continuou a ser cuidado pelo seu patrão, José Jorge, e pelo sota-patrão, Manuel Loló, ambos já falecidos.
Ao longo destes 34 anos de inatividade, barco e abrigo foram sendo alvo de alguns restauros e conservação. Mas só agora, com o projeto da criação do Centro de Interpretação é que a sua história e memória serão devolvidas aos visitantes e à população.
O salva-vidas, construído em madeira e com o tipo dinamarquês visível na madeira trincada do casco, era movido à força de braços. Da sua tripulação, apenas o patrão e o sota-patrão eram fixos. Os restantes eram recrutados entre os pescadores, nem sempre agradados com a necessidade de arriscarem a sua vida, em troco de um pagamento que não compensava os perigos.
Num excerto de vídeo mostrado na cerimónia de assinatura do protocolo, um antigo pescador recordava que a companha do salva-vidas passava «um dia inteirinho além, até que o último barco viesse para terra». Tudo isto para ganhar «17$50 e depois 20 escudos».
Mas esse esforço compensava, num tempo em que os barcos de pesca eram a remos ou à vela e passar a assoreada barra de Alvor era um perigo permanente. Muitas vidas foram salvas, muita gente de Alvor existe hoje porque essa companha de homens corajosos andou horas no mar para resgatar o seu avô ou pai. Outro antigo pescador, no mesmo testemunho em vídeo recolhido pela Casa Manuel Teixeira Gomes, recordava a vez em que «o barquinho de Alvor já estava no fundo, mas salvámos os homens».
É toda essa memória de vida dura e heroísmo que o Centro de Interpretação do Salva-Vidas de Alvor quer agora celebrar e não deixar cair no esquecimento.
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